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Se durante o primeiro semestre do ano a especulação financeira global provocou um surto inflacionário das commodities, que jogou a cotação dos óleos vegetais – e, conseqüentemente, a do biodiesel – nas alturas, o estouro da bolha nos Estados Unidos trouxe os preços novamente para o chão, justamente no momento em que o mercado estava começando a se acomodar ao novo patamar.

Entre as cotações torpedeadas pela atual crise está a do barril do petróleo. “Ninguém esperava a atual queda no preço do petróleo. O barril, que chegou a ser negociado acima dos US$ 147, caiu para abaixo de US$ 50 pela primeira vez desde maio de 2005. É mais de 100% de variação em apenas um ano”, lamenta Rodrigues. É mais um imbróglio que precisa ser resolvido.

“Se o preço do barril do petróleo continuar caindo do jeito que está, um dos incentivos para a aceleração do biodiesel desaparece”, avalia o executivo da Agrenco, verbalizando uma das atuais fontes de angústia do setor.

Além de causar tumulto ao mercado interno, a crise internacional praticamente sepulta a pretensão brasileira de se tornar um grande exportador de biodiesel em curto e médio prazo. Afinal, se as exportações nacionais já andavam custando a decolar em uma economia robusta, com um mercado adverso fica quase impossível.

“O plano de negócios original da Agrenco previa a exportação de até 50% da produção para a União Européia. Isso nunca saiu do papel”, lamenta o executivo. A BSBios também esperava que a exportação fosse um canal importante de escoamento da produção. A empresa foi uma das primeiras usinas de biodiesel a conseguir autorização legal para exportar (Oleoplan, ADM, Agrenco, Caramuru, Comanche e DVH também possuem essa autorização). “A culpa maior do mercado externo não estar acontecendo não é o preço do petróleo e nem o das commodities, mas os subsídios pagos aos produtores nos Estados Unidos e União Européia”, protesta Battistella.

Os produtores também cobram do governo federal uma postura mais positiva no estímulo às exportações, apontando para o exemplo dos vizinhos argentinos. “O Brasil é um país com grande vocação para a exportação e que tem custos muito competitivos. Mesmo assim, estamos perdendo o mercado para a Argentina porque eles incentivam as exportações de biodiesel com benefícios tributários que a gente não tem por aqui”, compara Ferrés.


Solução definitiva

Por mais relevante que seja a queda de braço entre indústria e governo para definir o cronograma de adoção do B4 e do B5, essa é apenas a superfície do problema do biodiesel. No limite, é preciso levar em conta o preço desfavorável do biodiesel frente à sua versão fóssil.

“Do ponto de vista da capacidade industrial, acho que estamos muito bem. O que ainda falta é dar uma resposta adequada à questão agrícola. Somos muito dependentes da soja e ela não é a melhor alternativa. Precisamos diversificar as matérias-primas para incluir oleaginosas mais rentáveis como o dendê e o pinhão-manso”, comenta Rodrigues. “Infelizmente, a única recomendação que posso dar aos produtores é que eles tenham paciência e pensem no longo prazo. No que depender da ação direta do governo, faremos o que pudermos para ajudar”, complementa.

Mas enquanto a solução definitiva não chega é preciso tomar cuidado para que o PNPB não acabe se esvaziando. “Se o governo não agir logo para equilibrar oferta e demanda, o setor e o Brasil como um todo vão começar a perder as vantagens que a implantação da indústria do biodiesel deveria gerar para o país. O PNPB foi desenhado para gerar empregos, dar sustentação aos preços agrícolas, estimular o crescimento regional, aumentar o valor agregado das exportações, melhorar o controle da poluição, entre outras coisas. Não fazer nada seria jogar fora parte do esforço que já realizamos. O programa não deveria ser estreito a ponto de permitir isso”, conclui Ferrés.

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